Voltar atrás – porque não?

Sempre ouvi dizer essa coisa de “sempre em frente” ou de “não dá para voltar atrás”. Dar, até dá. E, às vezes, é necessário. Se temos até um ex-papa… – Porque não?

A grande questão, ao meu ver, não é não voltar atrás, mas como fazer para terminar um estágio e começar outro, quando começar outro quer dizer começar do zero, no que, para outras pessoas, pode parecer um regresso. É muito legal poder usar o desfazer quando fazemos uma bobagem num arquivo de computador… Mas o control+z da vida real pode ser muito doloroso.

No computador, uma vez que refizermos direito, não restará nenhum traço da meleca que foi feita antes. Na vida, é extremamente necessário não agir como se a fase que tivemos nunca tivesse existido, mesmo que ela tenha sido péssima. É necessário se responsabilizar por cada uma de nossas escolhas – já diria Sartre, esse é o preço por nossa liberdade de fazê-las (e, nesse caso, eu acrescento: De desfazê-las também)!

Os principais motivos para não esquecer uma decisão mal tomada, ou um ato do qual precisamos voltar atrás, que eu posso me lembrar agora, são dois: O primeiro, porque todo o ato tem consequências  e você precisa lidar com elas, e, o segundo é que toda a experiência traz aprendizado, mesmo que seja um aprendizado do que não fazer.

Não que eu saiba para onde eu estou indo, mas eu voltei atrás. Contando os anos de estudo e os de exercício, eu dediquei exatos 13 anos ao magistério, que eu realmente gostava muito no início, mas, no meio do caminho acabei descobrindo que não é uma profissão que eu tenha condições físicas ou psicológicas para seguir. O que é uma pena, porque, em minha modesta opinião, eu era uma professora dedicada e esforçada, com muitas idéias bacanas para melhorar o ensino dos seres humanos que passassem por mim.

Já vinha desiludida há um tempo, mas buscando motivação; o que me provou definitivamente que eu estava no caminho errado (e que eu vi como o sinal dos deuses de que eu já tinha passado da hora de parar) foi um problema de desgaste da articulação do tornozelo, que me impedia de realizar minha função do jeito que eu realizava antes, mas não era grave o suficiente para que eu ficasse de licença – tinha que trabalhar do jeito que desse. Já são dois anos de dor, quase todos os dias, no dito tornozelo, e, apesar de eu ainda não ter um diagnóstico fechado (graças à demora em conseguir um ortopedista pelo SUS) é aparentemente um problema crônico que resistirá por toda essa vida – uma consequencia de uma escolha pouco pensada, tomada pela influência de outras pessoas mais que pelos meus reais desejos.

Hoje, embora meu emocional e meu físico sejam totalmente resistentes a voltar a dar aula, minha mente tem uma dificuldade imensa para tomar outro rumo, saber por onde recomeçar. Às vezes, e principalmente com a fata de grana, me pego pensando em dar um jeito de dar umas aulas, sabendo que é um emprego prá pouco tempo desde o início, só prá sair do aperto… Mas pensar isso acordada significa ter pesadelos no próximo sono. Eu perdi muito de mim mesma dando aula, e ainda preciso reencontrar. Eu preciso dar um basta, voltar atrás esses 13 anos, e ter, aos 28, a crise vocacional que eu devia ter tido na adolescência e não tive, mesmo que isso pareça idiota. Só espero encontrar logo um jeito de voltar a seguir adiante…

1 comentário (+adicionar seu?)

  1. Ale Dossena
    mar 14, 2013 @ 09:26:55

    Você é jovem, tem muito tempo para vários recomeços Lórien!! Tenho certeza que conquistará seus sonhos e após tantas experiências saberá exatamente para onde seguir. Veja eu, fiz duas faculdades extremamente técnicas (Contábeis e Informática), daí precisei fazer uma pós de Administração para consolidar meus conhecimentos e porque minha função na empresa é puramente administrativa (embora as faculdades me ajudaram muito a galgar esse posição). Continuo trabalhando porque não posso jogar fora uma carreira de sucesso de quase 20 anos, é minha vida né? Mas tudo isso para, com 39 anos, me realizar sabe como? Escrevendo e fazendo scrap!!! 😛
    Mas ao contrário do seu depoimento, não creio (ou ainda não) que perdi algo nesses anos todos. Ao contrário, só consigo ver ganhos, tanto materiais quanto comportamentais. Aprendi muito com minha profissão. Entretanto, se eu tivesse 15 anos novamente, estou quase 100% certa que escolheria outra….hehehe.
    No fundo, pessoas como a gente, apaixonadas pela vida (te vejo assim também), estamos sempre questionando isso. E queremos de verdade ter tempo para aprender tudo, fazer tudo e experimentar tudo. Não é assim?
    Aff !! Escrevi praticamente um post aqui…. desculpe a liberdade. Bjs e bom dia !

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Selinho